Noites Alienígenas
“Noites Alienígenas” expõe uma Amazônia urbana, onde a ancestralidade dos povos tradicionais resiste à contemporaneidade que insiste em negar a floresta. Com elementos narrativos fantasiosos, o longa apresenta a história de três personagens da periferia de Rio Branco, impactados pelo conflito entre facções criminosas e pela violência urbana, que, nos últimos dez anos, quase triplicou o assassinato de crianças e jovens no Estado do Acre.
Análise de “Noites Alienígenas”
“Noites Alienígenas” surge como um marco cinematográfico ao se apresentar como a primeira produção de longa-metragem do Acre, propondo-se a desvendar a complexa teia de mundos que se interconectam no espaço urbano acreano, uma geografia pouco explorada na tela grande. Entretanto, a obra se embrenha em terrenos conhecidos e se perde no próprio labirinto narrativo que tenta construir.
Por um lado, o filme acerta ao empregar a ficção científica como metáfora da alienação cultural, especialmente em relação ao desconhecimento nacional sobre o Acre, trazendo uma crítica latente sobre o isolamento de certas culturas dentro do próprio país. A exploração da dualidade entre o verde amazônico e o cinza urbano é interessante, mas o tratamento dado a essa interação é superficial, deixando a sensação de que a ancestralidade, proposta como tema central, merecia um mergulho mais profundo e menos decorativo.
A obra acompanha a jornada de personagens jovens em meio a um Rio Branco que pulsa com as feridas abertas pelo tráfico, mas essas narrativas paralelas se entrecruzam com uma inconstância que oscila entre o intrigante e o incoerente. Enquanto personagens como Sandra (Gleici Damasceno) oferecem uma visão mais contida e reflexiva, Paulo (Adanilo Reis) e Rivelino (Gabriel Knoxx) são arrastados para dentro de estereótipos de conflito que, embora dramáticos, carecem de substância para evocar uma genuína empatia ou crítica social.
A direção de Sérgio de Carvalho, embora ambiciosa, parece indecisa em qual história dar prioridade, oscilando entre o urbanístico e o ancestral, sem se comprometer inteiramente com nenhum dos dois. Esta indecisão narrativa afeta o ritmo do filme, que estabelece um universo rico mas se arrasta em dilemas mal desenvolvidos, acelerando de forma precipitada em direção a um clímax que deseja ser catártico, mas que soa apressado e não inteiramente merecido.
O talento do elenco é inegável, com Chico Díaz e Gabriel Knoxx atuando como pilares emocionais e narrativos da história, conectando gerações e subtramas de uma forma que o próprio roteiro luta para fazer. A presença de Adanilo Reis é marcante e evidencia um potencial dramático que o filme apenas roça superficialmente.
Em resumo, “Noites Alienígenas” carrega a promessa e a responsabilidade de ser uma voz pioneira do cinema acreano, mas sua execução hesitante deixa claro que há ainda um longo caminho a percorrer. O filme, apesar dos tropeços, é um ponto de partida significativo e um convite para o reconhecimento e a valorização da produção cultural dessa região tão rica e diversa.