Três amigas em busca de uma misteriosa herança na Argentina. Elas passam por uma sequência de perrengues e situações perigosas e ao mesmo tempo hilárias, ao se envolverem sem saber com traficantes locais.

Análise de “La Situación”

O filme que prometia uma aventura descomprometida sobre o acaso e a fortuna feminina tropeça em sua própria narrativa, transformando uma premissa que poderia ser uma viagem de descoberta e camaradagem em um roteiro confuso e saturado. A protagonista Ana, cuja sorte inesperada a leva a buscar conselho legal para uma herança inesperada, representa o clássico “golpe de sorte” que desencadeia a trama, mas esse ponto de partida logo se dissolve em um mar de improbabilidades e mal-entendidos.

Ao lado de Letícia (Rabelo), uma personagem cuja jornada pessoal de ser negligenciada poderia ter sido um poderoso subtexto sobre empoderamento feminino, e Yovanka (Lopes), cuja excentricidade é uma fórmula pronta para alívio cômico, o filme se posiciona para explorar as complexidades da amizade feminina. No entanto, ao invés de oferecer um retrato autêntico e matizado das mulheres que protagonizam a história, o filme as reduz a caricaturas envolvidas em uma trama absurda de contrabando.

A infeliz escolha de uma caixa de absorventes – que se revelam recheados com cocaína – como mecanismo de plot, é um exemplo claro da tentativa do filme de forçar uma comédia de erros que nem sempre alcança seu alvo. O humor, que deveria fluir naturalmente das interações e das situações, parece forçado e pouco convincente, prejudicando o que poderia ser um eficaz comentário social sobre as aparências e as coincidências da vida.

A descida das personagens ao caos, confundidas com traficantes, é uma alegoria mal aproveitada que poderia ser usada para desafiar estereótipos ou explorar temas de injustiça e identidade, mas que, em vez disso, serve apenas como um veículo para cenas inverossímeis e uma série de piadas que não conseguem salvar o filme de suas próprias deficiências narrativas.

Em resumo, este road movie se esforça para ser uma colagem de gêneros e temáticas, mas falta-lhe a sutileza e a habilidade para tecer com êxito os fios da comédia, da crítica social e da aventura pessoal, resultando em uma obra que é menos uma jornada e mais um conjunto de desvios narrativos que não levam a lugar algum.