Asteroid City
Decorre numa cidade ficcional em pleno deserto americano, por volta de 1955. O itinerário de uma convenção de Observadores Cósmicos Jr./Cadetes Espaciais (organizada com o objetivo de juntar estudantes e pais de todo o país para uma competição escolar com oferta de bolsas escolares) é espetacularmente perturbado por eventos que mudarão o mundo.
Análise de “Asteroid City”
Em “Asteroid City”, o aclamado diretor Wes Anderson nos presenteia não apenas com sua visão estética inconfundível, mas também com um comentário mordaz sobre a natureza efêmera da sociedade americana dos anos 50. Situada no coração do deserto norte-americano, a narrativa da cidade que serve como pano de fundo é interrompida por uma convenção que promete futuro e prosperidade aos jovens cadetes, evocando, assim, as promessas do Sonho Americano.
Anderson, com sua maestria, constrói o filme como uma peça teatral, onde a divisão entre atos não apenas estrutura a trama, mas oferece um olhar reflexivo sobre a artificialidade do cinema e do teatro. Essas transições, embebidas em cenas de bastidores em preto e branco, fazem uma crítica sutil à dualidade entre aparência e realidade, traço intrínseco ao mundo do entretenimento.
A paleta pastel característica de Anderson é ainda mais acentuada pelo contraste com as cenas monocromáticas, e o deserto, com suas referências à década de 50, serve como uma metáfora do isolamento cultural e da resistência ao progresso. Já a trilha sonora, composta majoritariamente por músicas country, remete ao coração da América, ecoando o sentimento nostálgico da época.
Os personagens, embora profundamente individuais, são reflexos de uma sociedade à beira de grandes mudanças. Johansson como Campbell representa o glamour e a audácia de Hollywood, enquanto Schwartzman, como Steenbeck, personifica o luto e a busca por sentido em meio ao caos. Norton, por sua vez, traz a figura do dramaturgo, aquele que observa e interpreta a realidade à sua volta.
Contudo, é a figura do alienígena que traz a maior crítica. Em um mundo preso em suas tradições e receios, a chegada inesperada deste ser de outro mundo desafia as convenções e obriga a cidade a confrontar o desconhecido. É uma representação da xenofobia e do medo do “outro”, embalada em um humor característico de Anderson.
Em suma, “Asteroid City” não é apenas uma ficção científica retrô, mas uma lente crítica sobre uma era e uma sociedade em transformação. Anderson, com sua singularidade, une humor, estética e comentário social, provando mais uma vez por que é um dos diretores mais proeminentes de sua geração.