Em uma Terra Muito Distante… Havia um Crime
No baile da Cinderela, Chapeuzinho Vermelho se envolve em um mistério. Será que ela consegue resolver esse caso antes da meia-noite?
Análise de “Em uma Terra Muito Distante… Havia um Crime”
Numa incursão audaciosa pelo reino das fábulas, o filme nos apresenta a Chapeuzinho Vermelho, aqui reinterpretada com uma perspicácia investigativa que Kanna Hashimoto traz à vida com um equilíbrio notável de inocência e astúcia. A premissa é ousada: uma clássica heroína de contos infantis transformada em detetive, decifrando enigmas com a mesma facilidade com que outrora escapava de lobos maus.
A narrativa começa tropeçando nos próprios laços com cenas que beiram o constrangimento, mas logo a direção abraça a artificialidade do cenário e, com um gesto quase teatral, nos pede para deixar a incredulidade de lado e mergulhar na espiral de fantasia. Há, contudo, uma certa dissonância no ritmo da trama que oscila entre o brilhantismo e o confuso, ao entrelaçar os elementos familiares de Cinderela em um mistério que carece de uma bússola narrativa mais confiável.
A trilha sonora se ergue como uma força redentora, pintando cada cena com nuances emotivas que quase nos fazem perdoar o ocasional exagero dramático. No entanto, a estética teatral da atuação, tão distinta da escola ocidental, pode exigir um ajuste de expectativas, com personagens que parecem mais caricaturas animadas do que figuras com as quais se possa simpatizar facilmente.
Hans, curiosamente, se destaca neste carnaval de excentricidades como uma peça que encaixa perfeitamente no puzzle extravagante do filme, ganhando a antipatia e o interesse do público na mesma medida. A direção, contudo, tropeça ao intercalar elementos de um tutorial narrativo com diálogos que carecem de substância e uma divisão episódica da montagem que testa a paciência.
O conceito de um drama policial ambientado em um reino encantado é intrigante e há momentos em que a investigação conduzida por Chapeuzinho realmente brilha, prometendo mais do que entrega. A execução, entretanto, vacila ao tentar tecer um tecido narrativo que harmonize o mistério, o moral e o romântico, resultando em um mosaico que não chega a formar um quadro completo.
Apesar dos revezes, o filme carrega em sua essência partículas de brilho que, se isoladas, resgatam parte de seu valor. Ele requer uma paciência seletiva para filtrar as joias escondidas na confusão, mas para aqueles dispostos a tal exercício, há recompensas a serem encontradas. Em suma, a película se equilibra na corda bamba entre o fracasso e o fascínio, provando ser uma experiência que, ao menos em partes, vale a pena ser vivenciada.