Infâmia
Uma escola particular para meninas se escandaliza quando uma estudante problemática e rancorosa, Mary Tilford, acusa as duas jovens que dirigem a escola de ter um relacionamento lésbico.
Análise de “Infâmia”
“Infâmia” (“The Children’s Hour”), lançado em 1961, é um filme que aborda temas ainda relevantes e profundos, desafiando visões datadas de outros escritores sobre a obra. O filme, dirigido por William Wyler, é uma corajosa adaptação cinematográfica que explora a temática do lesbianismo em uma época em que tal assunto era amplamente rejeitado pela sociedade.
Karen e Martha, interpretadas por Audrey Hepburn e Shirley MacLaine, respectivamente, são amigas íntimas que compartilham uma casa e trabalham juntas em um colégio para meninas. A trama se desenrola quando a personagem Mary Tilford, uma criança maliciosa, inicia um boato maldoso sobre a natureza da relação entre Karen e Martha. O rumor logo sai do controle, levando a consequências devastadoras para as duas mulheres, com salas de aula vazias e relações pessoais abaladas. O filme aborda a rápida disposição da sociedade em julgar e condenar algo considerado “antinatural”, independente de ser verdade ou não.
A atuação de Audrey Hepburn como Karen é destacada como contida e elegante, conferindo à personagem uma aura de dignidade e graça. James Garner, interpretando o noivo de Karen, Dr. Joe Cardin, desempenha um papel crucial na história, embora sua atuação não domine a tela como se poderia esperar. No entanto, a performance mais marcante é de Shirley MacLaine como Martha. Seu trabalho é descrito como uma atuação poderosa, repleta de emoção e determinação, revelando as camadas complexas da personagem especialmente no último quarto do filme.
A diferença nos estilos de atuação de MacLaine e Hepburn enriquece “Infâmia”, tornando-o uma peça de estudo de personagens que pode ser apreciada em qualquer década. Com uma avaliação de 8/10, o filme é reconhecido por sua abordagem sensível e corajosa de um tema delicado, além de destacar o poder destrutivo
de rumores maliciosos e a influência da juventude na propagação de preconceitos.
“Infâmia” não é apenas um filme sobre o lesbianismo, mas também uma reflexão sobre a intolerância, o poder das palavras e as consequências devastadoras que podem surgir a partir de falsas acusações. A obra desafia o espectador a refletir sobre como a sociedade pode ser rápida em julgar e condenar com base em boatos e preconceitos, uma mensagem que permanece relevante nos dias de hoje.
Em termos de produção, é notável que “Infâmia” seja um remake do filme “These Three” de 1936, também dirigido por William Wyler e baseado na peça de Lillian Hellman. Enquanto “These Three” focava em um triângulo amoroso heterossexual devido às restrições da época, “Infâmia” retorna à premissa original da peça, abordando a temática do lesbianismo com uma franqueza rara para o período em que foi lançado.
Este filme representa um marco importante na história do cinema, tanto pela abordagem de um tema controverso quanto pela excelência de suas atuações e direção. “Infâmia” é um exemplo de como o cinema pode ser uma ferramenta poderosa para provocar reflexões e desafiar normas sociais, mantendo-se relevante mesmo décadas após seu lançamento.