Napoleão
Um olhar pessoal sobre as origens do líder militar francês e sua rápida e implacável ascensão a imperador. A história é vista através do prisma do relacionamento dependente e volátil de Napoleão com sua esposa e amor verdadeiro, Josefina.
Análise de “Napoleão”
A mais recente obra de Ridley Scott, uma figura icônica na indústria cinematográfica, chegou aos cinemas carregada de expectativas. No entanto, o filme se revela uma mistura de acertos e desacertos que provocam reflexão. Ao abordar a questão da precisão histórica, Scott nos lembra que o cinema, em sua essência, não é um documento histórico, mas uma arte que transcende a factualidade. Este conceito é exemplificado em obras como “Coração Valente” e “Maria Antonieta”, que, apesar de afastarem-se da rigorosa veracidade histórica, permanecem memoráveis por suas qualidades estilísticas e narrativas.
No entanto, nesta última incursão, Scott parece não alcançar o equilíbrio ideal. A edição do filme apresenta uma desconexão, uma espécie de fragmentação temporal que nos remete aos desafios enfrentados em filmes anteriores como “Blade Runner” e “Cruzada”. Este descompasso editorial deixa o filme em um estado de limbo, onde parece extenso demais para manter a coesão, mas ao mesmo tempo, curto demais para parecer completo.
O aspecto mais lamentável, no entanto, reside na fotografia. A escolha de uma paleta de cores acinzentadas e terrosas suga a vida das cenas, privando o filme do esplendor e do brilho que poderiam ter realçado as façanhas do protagonista, assim como a opulência dos palácios e trajes.
Por outro lado, a redenção vem na forma da atuação de Joaquin Phoenix. Com um desempenho estelar, Phoenix dá vida a um personagem complexo e multifacetado, navegando com maestria entre a loucura, o narcisismo e uma astúcia tática quase genial. A dinâmica entre Phoenix e Josefina, sua co-estrela, adiciona uma camada de profundidade emocional, mesclando inspiração e dependência.
Em suma, o filme se apresenta como um esforço digno de nota de Scott, que, mesmo após tantos anos de carreira, ainda mostra lampejos de brilhantismo. Resta a expectativa de que uma versão mais longa, prometida para a Apple TV, possa oferecer uma experiência mais completa e satisfatória. O filme nos oferece um panorama intrigante sobre temas como infidelidade, infertilidade, e a complexidade de um líder amado por seus seguidores, mas atormentado por inseguranças pessoais – um líder capaz de vencer batalhas estratégicas, mas vulnerável à derrota pelo peso do próprio ego.