Paraíso
Um homem vê o lado sombrio da empresa de doação de tempo em que trabalha quando sua esposa precisa abrir mão de 40 anos da própria vida para quitar uma dívida.
Análise de “Paraíso”
As distopias têm cativado o imaginário coletivo com seus universos alternativos desde que a Revolução Industrial começou a suscitar reflexões acerca de nosso relacionamento com a tecnologia. Atualmente, séculos mais tarde, elementos distópicos parecem ter se infiltrado em nossa realidade cotidiana, tal como as séries ao estilo de “Black Mirror” persistentemente apontam. O filme alemão “Paraíso” tenta trazer essa distopia para ainda mais perto da realidade, mas infelizmente, no caminho, perde a oportunidade de desenvolver completamente suas ideias promissoras.
O filme se passa em um mundo onde a corporação Aeon introduziu um método que permite às pessoas venderem anos de sua própria vida em troca de recursos financeiros. Como resultado, elas envelhecem prematuramente, enquanto os compradores ricos obtêm a juventude almejada. A dinâmica social é evidente desde o início: os ricos, muitas vezes milionários ou bilionários, compram mais tempo de vida com sua riqueza, enquanto os vendedores são tipicamente indivíduos de classes desfavorecidas que veem na venda uma chance de melhoria de vida.
O público é introduzido ao personagem central, Max (interpretado por Kostja Ullmann), um empregado da Aeon, no exato momento em que ele está persuadindo um jovem a trocar 15 anos de sua existência por 700 mil euros — um montante que poderia resgatar sua família de um campo de refugiados em Berlim. Contudo, a vida de Max sofre uma reviravolta dramática quando um incêndio arruina o apartamento onde vive com sua esposa Elena (Marlene Tanczik). Em um ato desesperado, Elena troca quase 40 anos de sua vida para saldar a dívida com o banco, destruindo assim os sonhos do casal de terem filhos e envelhecerem juntos. Este enredo, embora repleto de potencial crítico e emocional, não atinge todo o seu potencial narrativo, deixando o espectador desejoso por um aprofundamento que nunca chega.