Uma Boa Pessoa
Uma amizade improvável surge entre Daniel, que sofre para criar sua neta adolescente e ainda tenta lidar com os obstáculos da vida mesmo em idade avançada, e Alisson, uma jovem com um futuro brilhante que se envolveu em um grave acidente e perdeu sua filha pequena. A dor e a redenção unirá os dois em uma jornada inesperada de cumplicidade e apoio.
Análise de “Uma Boa Pessoa”
Optar por não visualizar trailers ou ler sinopses é uma prática que considero extremamente acertada, uma vez que permite que filmes como “Uma Boa Pessoa” surjam com destaque em meio à enxurrada de lançamentos mensais do cinema e das plataformas de streaming. Este título, em particular, subverte as expectativas desde o começo, desafiando a fórmula hollywoodiana tradicional que condiciona a felicidade à superação de adversidades extremas. “Uma Boa Pessoa” prenuncia seu drama desde as primeiras cenas, indicando que o cenário idílico inicial é apenas a calmaria antes da tempestade. A surpresa, porém, reside no tipo de adversidade que a trama aborda.
Zach Braff, que fez sua estreia na direção há duas décadas com o aclamado “Hora de Voltar”, não replicou o sucesso inicial em suas obras subsequentes, e “Uma Boa Pessoa” não foi exceção, recebendo uma acolhida morna. Apesar disso, o filme insere-se em um nicho reconhecido no cinema independente, frequentemente visando o prestígio de festivais como Sundance, Tribeca e SXSW. O cinema de Braff é marcado por um olhar atencioso sobre seus personagens, explorando seus dramas cotidianos e motivações com uma sensibilidade que transparece tanto na escrita quanto na direção.
A performance de Florence Pugh como Allie é um exemplo desse olhar meticuloso. Ela apresenta uma personagem complexa e cheia de nuances, que transita da exuberância da paixão inicial para um abismo de apatia e desespero indefiníveis. Allie se torna o meio pelo qual o filme explora problemas contemporâneos como o vício em opioides, ansiedade e uma forma de depressão menos aparente, enfatizando a tendência ao isolamento. É um trabalho colaborativo que se desenvolve num contexto narrativo e visual onde a direção de Braff é evidente e eficaz. Em particular, as cenas em que a câmera capta a angústia de Allie na cama durante a noite retratam de maneira vívida o mal-estar subjacente que o filme busca destacar — um retrato contundente de um sistema falho que merece ser mais debatido e conscientemente representado no cinema.